O que é
Autismo?
Distúrbios
do Espectro do Autismo (Autistic Spectrum Desorder – ASD) é um distúrbio do
desenvolvimento que normalmente surge nos primeiros três anos de vida da
criança. O ASD atinge a comunicação, a interação social, a imaginação e o
comportamento. É uma condição que prossegue até a adolescência e a vida adulta.
Todas as crianças com ASD poderão ter muitos progressos no desenvolvimento e
muito se pode fazer para ajudá-las. O ASD não pode ser detectado no nascimento
e também não há sintomas óbvios nos primeiros 6 meses.Como regra geral, a criança deve balbuciar e usar
gestos por volta de 12 meses,e palavras isoladas com significado ( além de mamã
e papá) por volta de 16 meses.Geralmente, as primeiras preocupações surgem aos
17 meses.
A
criança deve usar duas palavras juntas com significado por volta dos 24 meses;
o fato de não fazê-lo, ou qualquer perda de linguagem nesse período, é razão
para procurar um profissional de saúde. Algumas crianças com ASD terão
aprendido aptidões que então parecem perder. Em particular, algumas delas
ganham e, posteriormente, parecem perder aptidões de linguagem.
Há
três áreas primordiais de deficiência em crianças com ASD, que são: social,
comunicação e comportamento incomum e repetitivo.
O
campo social se relaciona com a cegueira mental, que se refere o ser cego em
relação à mente de outras pessoas, tendo grande dificuldade em entender o ponto
de vista ou as idéias ou sentimentos alheios, não entendendo que o outro tem
pensamentos e pontos de vista diferentes, como por exemplo, falar
excessivamente sobre determinado tópico de seu interesse sem considerar a
opinião do ouvinte. A cegueira mental dificulta indivíduos com ASD a entender
que os outros esperam que seu comportamento mude dependendo de onde ou com quem
estão interpretar diversos gestos ou expressões faciais e entender regras
sociais.
Na
comunicação, dificuldades de linguagem e comunicação e o desenvolvimento
precário da imaginação são características essenciais que incluem atraso no
desenvolvimento da linguagem com pouquíssimas tentativas de compensação por
meio de gestos, problemas para iniciar e manter o diálogo usa de linguagem
incomum, estranho ou repetitivo.
O
comportamento apresenta problemas com comportamentos incomuns e repetitivos
relacionando-se às dificuldades em compreender a essência das situações e do
desenvolvimento da imaginação, bem como às necessidades de buscar refúgio do
estresse do mundo social, mostrando preocupações de natureza intensa, com
coisas incomuns, de natureza sensorial ou com padrões, detalhes ou movimentos
de objetos, maneirismos e movimentos estranhos e repetitivos, rotinas intensas
ou compulsões e problemas ao lidar com a alteração da rotina.
Se
uma criança tem ASD, seus comportamentos são claros em todos os contextos,
acontecendo em qualquer lugar em que ela esteja.
Embora
o ASD descreva um conjunto de comportamentos, esses variam de pessoa para
pessoa na gravidade e combinação dos sintomas.
O
termo “Distúrbio do Espectro do Autismo” (ASD) não é um diagnóstico único. É um
termo abrangente que inclui todos os diagnósticos do espectro:
Autismo
(autismo infantil ou transtorno autista) - crianças e jovens que recebem este
diagnóstico mostram distúrbios em interação social,comunicação e brincadeiras
imaginativas antes dos três anos de idade, bem como comportamentos, interesses
e atividades estereotipadas.
Todas as crianças que apresentam distúrbios do espectro
do autismo têm dificuldades pragmáticas de linguagem. Às vezes, usam-se termos
como transtorno semântico- pragmático e evitação patológica para definir
crianças no espectro do autismo com temperamento voluntarioso e que apresentam
forte resistência a quaisquer demandas que lhes são feitas.
Crianças
com ASD parecem ter grande dificuldade em reunir informações para entender a
essência do que está acontecendo ou do que se espera delas. Por exemplo, se
ouvimos os sinos de uma igreja e uma grande concentração de pessoas bem
vestidas jogando confetes em um casal fora da igreja, podemos concluir que se
trata de um casamento. A criança com ASD pode concentrar-se nos sinos tocando
ou nos confetes e não identificar que se trata de um casamento. Elas podem não
entender o significado geral quando estão diante dos detalhes, mas se preocupam
com ele. Se alguém diz “A mulher levou o cão à praia”. Logo imaginamos a ação
de conduzir. Relacionamos a frase com a ação. Crianças com autismo podem ter a
conclusão errada porque têm problemas em referir-se ao contexto e detalhes, um
em relação ao outro. Não conseguem entender o significado de palavras dentro do
contexto correto.
Em
vez de ver o objeto como um todo muito crianças concentram-se em partes
individuais. Quando mostramos figuras a uma criança com ASD, nas quais podemos
ver uma festa,um parque ou detalhes,ela naturalmente será atraída por detalhes
ou padrões que reconhece ou lhe interessam,em vez de entender a essência ou ver
o significado global do evento.Podem se sentir atraídas por determinados
aspectos sensoriais,concentrando-se na textura,gosto,aroma,visão ou sons e não
na função do objeto como um todo.Algumas ficam muito inquietas ao ouvir ruídos
altos,facilmente tolerados pela maioria das pessoas.
Crianças
com ASD acham que se concentrar em experiências sensoriais reduz sua ansiedade.
Sentem-se à vontade ao agirem assim.Isso lhes permite evitar experiências que
causam mais ansiedade,como por exemplo, interagir com os outros indivíduos.
Dificuldades
com a imaginação também podem levar a uma tendência a concentrar-se em
experiências perceptivas concretas. No desenvolvimento infantil, as
brincadeiras evoluem em conseqüência da imaginação. Se a imaginação estiver
ausente, então as brincadeiras permanecem onde estão e envolve padrões e
rotinas. Em conseqüência da cegueira mental, crianças com ASD não vêem motivo
para brincar com alguém e, brincar sozinho, diminui as probabilidades de
brincadeiras variadas. Algumas crianças podem ter interesse em aspectos incomum
de um movimento, como por exemplo, observar determinadas partes do corpo
enquanto se movem,observando as mãos regularmente ou o movimento dos pés
enquanto caminha, etc.
Crianças
com ASD têm dificuldades nas áreas da imaginação, percepção temporal,
planejamento e memória. Essas dificuldades se relacionam entre si, podendo
provocar dificuldade constante de planejar o futuro e entender o decorrer do
tempo. A imaginação nos permite dramatizar, brincar simbolicamente, fingindo
que uma coisa é outra, fantasiar, imaginar, ser criativo e inventar coisas. A
maioria dos autistas desenvolve a capacidade imaginativa à medida que envelhece
embora o ritmo possa ser mais lento para outros. Podem ser extremamente
criativos, mas com probabilidade de usarem canais criativos alternativos. Por
exemplo, ao desenharem, baseiam-se mais na lógica, memória e justa posição,
como exemplo, ao desenharem uma casa, podem iniciar desenhando o fundo de um
cano de escoamento e prosseguirem daí, ao invés de iniciarem pelo esboço da
casa.
Crianças
com ASD têm dificuldades de compreender alguns conceitos como sarcasmo, ironia
e idéias abstratas, como exemplo, paraíso, confiança, honra, amor e hierarquia,
não apenas no sentido do conceito, mas também em saber intuitivamente como ele
nos atinge.
A percepção temporal das crianças com ASD costuma ser
arraigada no presente, porque pensar o futuro envolve imaginação. O futuro,
para elas, acontece de uma maneira mais literal. Por exemplo,se dissermos que
ela vai à casa da vovó, ela pode achar que vai naquele momento, podendo esperar seguir o mesmo trajeto e
comer os mesmos alimentos.Sua imaginação não induz novas possibilidades com a
ação de ir à casa da vovó.
A
memória também parece ser problemática, em alguns aspectos que se relacionam a
não ser capaz de entender muito bem a linguagem nem o mundo social, pois é
difícil lembrar bem de algo que não se consegue entender. Têm preferência por
memória visual. Elas parecem ter melhor memória visual, provavelmente, em
conseqüência das dificuldades de linguagem e o fato de que as imagens
visuais,quando apresentadas,não desaparecem imediatamente como acontece com os
sons.Elas persistem e a criança refere-se novamente a elas.
A
linguagem, em crianças com espectro do autismo, é prejudicada, pois a
capacidade para desenvolver aptidões de comunicação não é desenvolvida nessas
crianças. Alguns desses problemas de linguagem se originam da cegueira mental e
da não compreensão da essência,podendo ainda, apresentar outras dificuldades, o
que varia muito de pessoa para pessoa e pode aflorar de várias
maneiras.Crianças com ASD podem desenvolver linguagem mais tarde e ter aptidões
de linguagem expressivas (saber dizer o nome das coisas) e receptivas (entender
o que se diz) limitadas.Criança com ASD tem probabilidades muito menores de
responder aos seus provedores de cuidados.Elas parecem não ter parte do
programa que as ajudam a reagir.Não murmuram nem balbuciam.Seus problemas com a
Teoria da Mente (TDM) e com o entendimento da essência dificultam a comunicação
social.Em geral,são alheias às necessidades do ouvinte e não captam as
informações não verbais no rosto dos outros.
Às
vezes, seu comportamento parece insolente porque não entendem a essência de um
comentário dentro de um determinado contexto social. Quando a linguagem se
desenvolve,ela costuma ser repetitiva e desprovida de qualidade social.As
conversas parecem ser mais sobre fatos do que sobre sentimentos e são bastante
unilaterais.
Intervenções
em ASD
Criar filhos com ASD é um trabalho árduo, que exige
muitos esforços de pais, professores e outros profissionais. Há algumas
intervenções que trazem grande valia para crianças com ASD e suas famílias. Por
exemplo: o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, podem contribuir muito
para melhorar a comunicação. Vários programas, como sonorize, também reconhecem
os pontos fortes de cuidados criativos por parte dos pais e a importância de
não deixar as crianças sozinhas com seus próprios dispositivos, mas sim,
participar regularmente de suas atividades desde o início.
Son-Rise é uma abordagem para tratamento e educação
projetada para ajudar crianças com autismo, suas famílias e provedores de
cuidados. Baseia-se em alguns princípios fundamentais, entre os quais:
participar ativamente de comportamentos incomuns e repetitivos da criança na
tentativa de facilitar mais interação social;focar nas motivações e interesses
da criança para facilitar a aprendizagem e a aquisição de aptidões; incentivar
as brincadeiras interativas e usa-las para aprendizagem;manter uma atitude
positiva, imparcial e amorosa em interações e expectativas; reconhecer que os
pais ou provedores de cuidados são o recurso mais importante e duradouro da
criança e criar uma área de trabalho/diversão segura e livre de distrações.
Muitas das intervenções planejadas para crianças com
dificuldades do espectro do autismo concentram-se em aspectos como comunicação,
interação social e comportamento. Os movimentos repetitivos costumam melhorar
quando são essas as metas; por exemplo, incentivar a interação com os pais reduz
os comportamentos repetitivos.Vale a pena eliminar movimentos repetitivos se:
forem excessivos e atrapalharem outros aspectos da vida; atraírem
pilhérias;ferirem uma criança ou outrem e interferirem excessivamente na vida
familiar. Ex. de comportamento repetitivo: bate a cabeça repetidamente. O ato
de bater a cabeça pode ser uma expressão de frustração,raiva,medo dor ou tédio
(expressão emocional); para eliciar sensações apreciadas ou repetição
reconfortante (interesses sensoriais) ou para obter uma resposta do ambiente
(eliciar conseqüências). É sempre importante tentar entender por que a criança
adota o comportamento de bater a cabeça antes de darmos início a qualquer
intervenção. Nesse exemplo,a criança usa bater a cabeça quando quer continuar a
fazer as coisas que gosta, como brincar com seus brinquedos. Tal comportamento
a estava prejudicando,pois além de poder se ferir ,também impedia de aprender
ou participar de outras coisas. Algumas alternativas foram usadas pelos pais e
escola para auxiliar essa criança: -ensinando sobre escolha: deram-lhe duas
opções de brinquedos e usaram um cronômetro para ajudar a criança a entender
quando era a hora de um ou outro brinquedo. Se começava a bater a cabeça, os
professores calmamente lhe diziam “Nada de bater a cabeça.”; -passaram a usar
um capacete para evitar que ele se ferisse. Capacetes protetores funcionam de
várias maneiras, dependendo da criança e do problema. Com ele,a criança reduziu
drasticamente este comportamento de bater a cabeça. Às vezes, os comportamentos
repetitivos são um sinal de alerta para sintomas físicos como dor ,fome ou
cansaço. É importante bancar o detetive e tentar descobrir qual problema está
causando o comportamento repetitivo.Às vezes,é possível alterar um
comportamento,alterando a reação à ele,ignorando-o ou incentivando a criança a
fazer outra alguma outra atividade ou mesmo,alterando o ambiente físico.
Crianças com ASD tem maior probabilidade de
desenvolver compulsões, obsessões, rotinas e hábitos ou rituais do que as
demais.Essas rotinas ou rituais compulsivos em ASD têm conteúdo ou intensidade
incomum. Muitas começam como algo pequeno e vão crescendo, a medida que a
criança vai alcançando novas etapas.Por exemplo, Peter, aos cinco anos, começou
a insistir de fechar a porta da sala quando ele estava presente. Com o passar
do tempo, isso se estendeu às outras portas das cãs. Ele chegava da escola e ia
fechando todas as portas da casa. Aos sete anos, fazia birra se alguém
insistisse em manter alguma porta ou janela aberta quando ele estava por perto.
Esse problema foi solucionado com um sistema de recompensas que o ajudou a
aceitar portas e janelas abertas.
No geral,as rotinas inofensivas que dão estrutura são
boas porque fazem as crianças com ASD se sentirem seguras.Outras são inúteis, como
por exemplo, o caso de Jacó. É importante observar que cada criança deve ser
analisada individualmente, considerando QUAL é o problema, POR QUE ele acontece
e COMO lidar com ele.No caso de Jacó, seu problema consiste numa série de
rituais matinais, que executa antes de sair,onde seus familiares têm que ficar
parados numa determinada parte da casa enquanto ele faz uma série de coisas que
não tem relação com sua preparação para sair,por exemplo,começa pelos quartos
enquanto sua família fica no andar de baixo.Verifica o piso,depois vai para o
quarto dos pais e executa um complexo ritual envolvendo o espelho e o
desodorante.Veste-se em determinada seqüência,depois desce as escadas fazendo
trejeitos e uma acrobacia no patamar,arruma seus Teletubbies e ninguém pode
perturbá-los.Isso leva mais de meia hora e só depois vai tomar o desjejum para
sair.Se algo der errado,repete tudo novamente.Nesse caso,Jacó tem cegueira
mental,não tendo noção das necessidades dos outros na casa de também se
prepararem para sair cedo de casa.Ele não compreende a importância de sair de
casa em tempo para chegar à escola.A rotina o faz sentir-se confortável.Talvez
a ansiedade de ter que sair,o faça precisar do ritual para apoiar-se e ajuda-lo
a enfrentar a situação.
Para lidar com seu problema,usou-se um horário visual
com fotos da família e dele fazendo atividades enquanto se preparavam para sair
e, depois,uma figura dele no carro com a mãe e a irmã.Quando for mais
velho,opinião e debate sobre as necessidades de outros familiares o ajudarão.Uma
história social também o ajudou a entender o contexto de alguns eventos
matinais e, um cronômetro foi uma forma útil de informá-lo sobre quanto tempo
ele tinha antes de sair de casa de carro. Seu gosto pela rotina foi satisfeito
pela mãe que fez pequenos cartões escritos de forma nítida que cobriam cada
atividade feita. Jacó gostava de colocar cada cartão no lugar à medida que as
coisas progrediam. É sempre importante deter as tentativas infantis de
acrescentar mais eventos ao ritual. Quanto mais longos os rituais, mais
difíceis de cessar.
Outras intervenções que se pode experimentar são:
criar bons hábitos desde cedo, como por exemplo,no caso de a criança ter
pesadelos,criar hábitos de dormir desde cedo, estabelecendo uma rotina noturna
que envolva desde o ambiente silencioso, escuro e aquecido, até uma rotina,
como por exemplo, tomar banho; vestir o pijama; beber alguma coisa e comer uma
bolacha; ir ao banheiro; lavar as mãos e escovar os dentes; deitar-se; uma
história curta; beijos de boa noite no pai ou mãe; apagar a luz e o pai ou a
mãe diz “boa-noite” e sai. Procure manter sempre o mesmo horário.
Muitas outras intervenções podem ser feitas,mas o
importante é que se analise cada caso, descobrindo qual o problema que a
criança apresenta e o porquê de tal problema.Toda intervenção deve partir desse
princípio.
Referência Bibliográfica
Williams,Chris, e Wright, Barry (2008):Convivendo com
Autismo e Síndrome de
Asperger: Estratégias práticas para pais e
profissionais.São Paulo, M. Books do Brasil Ed. Ltda.