sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O que é Autismo?



O que é Autismo?


  Distúrbios do Espectro do Autismo (Autistic Spectrum Desorder – ASD) é um distúrbio do desenvolvimento que normalmente surge nos primeiros três anos de vida da criança. O ASD atinge a comunicação, a interação social, a imaginação e o comportamento. É uma condição que prossegue até a adolescência e a vida adulta. Todas as crianças com ASD poderão ter muitos progressos no desenvolvimento e muito se pode fazer para ajudá-las. O ASD não pode ser detectado no nascimento e também não há sintomas óbvios nos primeiros 6 meses.Como  regra geral, a criança deve balbuciar e usar gestos por volta de 12 meses,e palavras isoladas com significado ( além de mamã e papá) por volta de 16 meses.Geralmente, as primeiras preocupações surgem aos 17 meses.
    A criança deve usar duas palavras juntas com significado por volta dos 24 meses; o fato de não fazê-lo, ou qualquer perda de linguagem nesse período, é razão para procurar um profissional de saúde. Algumas crianças com ASD terão aprendido aptidões que então parecem perder. Em particular, algumas delas ganham e, posteriormente, parecem perder aptidões de linguagem.
 Há três áreas primordiais de deficiência em crianças com ASD, que são: social, comunicação e comportamento incomum e repetitivo.
  O campo social se relaciona com a cegueira mental, que se refere o ser cego em relação à mente de outras pessoas, tendo grande dificuldade em entender o ponto de vista ou as idéias ou sentimentos alheios, não entendendo que o outro tem pensamentos e pontos de vista diferentes, como por exemplo, falar excessivamente sobre determinado tópico de seu interesse sem considerar a opinião do ouvinte. A cegueira mental dificulta indivíduos com ASD a entender que os outros esperam que seu comportamento mude dependendo de onde ou com quem estão interpretar diversos gestos ou expressões faciais e entender regras sociais.
   Na comunicação, dificuldades de linguagem e comunicação e o desenvolvimento precário da imaginação são características essenciais que incluem atraso no desenvolvimento da linguagem com pouquíssimas tentativas de compensação por meio de gestos, problemas para iniciar e manter o diálogo usa de linguagem incomum, estranho ou repetitivo.
  O comportamento apresenta problemas com comportamentos incomuns e repetitivos relacionando-se às dificuldades em compreender a essência das situações e do desenvolvimento da imaginação, bem como às necessidades de buscar refúgio do estresse do mundo social, mostrando preocupações de natureza intensa, com coisas incomuns, de natureza sensorial ou com padrões, detalhes ou movimentos de objetos, maneirismos e movimentos estranhos e repetitivos, rotinas intensas ou compulsões e problemas ao lidar com a alteração da rotina.
 Se uma criança tem ASD, seus comportamentos são claros em todos os contextos, acontecendo em qualquer lugar em que ela esteja.
  Embora o ASD descreva um conjunto de comportamentos, esses variam de pessoa para pessoa na gravidade e combinação dos sintomas.
 O termo “Distúrbio do Espectro do Autismo” (ASD) não é um diagnóstico único. É um termo abrangente que inclui todos os diagnósticos do espectro:
 Autismo (autismo infantil ou transtorno autista) - crianças e jovens que recebem este diagnóstico mostram distúrbios em interação social,comunicação e brincadeiras imaginativas antes dos três anos de idade, bem como comportamentos, interesses e atividades estereotipadas.
                      
Todas as crianças que apresentam distúrbios do espectro do autismo têm dificuldades pragmáticas de linguagem. Às vezes, usam-se termos como transtorno semântico- pragmático e evitação patológica para definir crianças no espectro do autismo com temperamento voluntarioso e que apresentam forte resistência a quaisquer demandas que lhes são feitas.
  Crianças com ASD parecem ter grande dificuldade em reunir informações para entender a essência do que está acontecendo ou do que se espera delas. Por exemplo, se ouvimos os sinos de uma igreja e uma grande concentração de pessoas bem vestidas jogando confetes em um casal fora da igreja, podemos concluir que se trata de um casamento. A criança com ASD pode concentrar-se nos sinos tocando ou nos confetes e não identificar que se trata de um casamento. Elas podem não entender o significado geral quando estão diante dos detalhes, mas se preocupam com ele. Se alguém diz “A mulher levou o cão à praia”. Logo imaginamos a ação de conduzir. Relacionamos a frase com a ação. Crianças com autismo podem ter a conclusão errada porque têm problemas em referir-se ao contexto e detalhes, um em relação ao outro. Não conseguem entender o significado de palavras dentro do contexto correto.
  Em vez de ver o objeto como um todo muito crianças concentram-se em partes individuais. Quando mostramos figuras a uma criança com ASD, nas quais podemos ver uma festa,um parque ou detalhes,ela naturalmente será atraída por detalhes ou padrões que reconhece ou lhe interessam,em vez de entender a essência ou ver o significado global do evento.Podem se sentir atraídas por determinados aspectos sensoriais,concentrando-se na textura,gosto,aroma,visão ou sons e não na função do objeto como um todo.Algumas ficam muito inquietas ao ouvir ruídos altos,facilmente tolerados pela maioria das pessoas.
  Crianças com ASD acham que se concentrar em experiências sensoriais reduz sua ansiedade. Sentem-se à vontade ao agirem assim.Isso lhes permite evitar experiências que causam mais ansiedade,como por exemplo, interagir com os outros indivíduos.
Dificuldades com a imaginação também podem levar a uma tendência a concentrar-se em experiências perceptivas concretas. No desenvolvimento infantil, as brincadeiras evoluem em conseqüência da imaginação. Se a imaginação estiver ausente, então as brincadeiras permanecem onde estão e envolve padrões e rotinas. Em conseqüência da cegueira mental, crianças com ASD não vêem motivo para brincar com alguém e, brincar sozinho, diminui as probabilidades de brincadeiras variadas. Algumas crianças podem ter interesse em aspectos incomum de um movimento, como por exemplo, observar determinadas partes do corpo enquanto se movem,observando as mãos regularmente ou o movimento dos pés enquanto caminha, etc.
 Crianças com ASD têm dificuldades nas áreas da imaginação, percepção temporal, planejamento e memória. Essas dificuldades se relacionam entre si, podendo provocar dificuldade constante de planejar o futuro e entender o decorrer do tempo. A imaginação nos permite dramatizar, brincar simbolicamente, fingindo que uma coisa é outra, fantasiar, imaginar, ser criativo e inventar coisas. A maioria dos autistas desenvolve a capacidade imaginativa à medida que envelhece embora o ritmo possa ser mais lento para outros. Podem ser extremamente criativos, mas com probabilidade de usarem canais criativos alternativos. Por exemplo, ao desenharem, baseiam-se mais na lógica, memória e justa posição, como exemplo, ao desenharem uma casa, podem iniciar desenhando o fundo de um cano de escoamento e prosseguirem daí, ao invés de iniciarem pelo esboço da casa.
  Crianças com ASD têm dificuldades de compreender alguns conceitos como sarcasmo, ironia e idéias abstratas, como exemplo, paraíso, confiança, honra, amor e hierarquia, não apenas no sentido do conceito, mas também em saber intuitivamente como ele nos atinge.
            A percepção temporal das crianças com ASD costuma ser arraigada no presente, porque pensar o futuro envolve imaginação. O futuro, para elas, acontece de uma maneira mais literal. Por exemplo,se dissermos que ela vai à casa da vovó, ela pode achar que vai naquele momento, podendo esperar seguir o mesmo trajeto e comer os mesmos alimentos.Sua imaginação não induz novas possibilidades com a ação de ir à casa da vovó.
 A memória também parece ser problemática, em alguns aspectos que se relacionam a não ser capaz de entender muito bem a linguagem nem o mundo social, pois é difícil lembrar bem de algo que não se consegue entender. Têm preferência por memória visual. Elas parecem ter melhor memória visual, provavelmente, em conseqüência das dificuldades de linguagem e o fato de que as imagens visuais,quando apresentadas,não desaparecem imediatamente como acontece com os sons.Elas persistem e a criança refere-se novamente a elas.
 A linguagem, em crianças com espectro do autismo, é prejudicada, pois a capacidade para desenvolver aptidões de comunicação não é desenvolvida nessas crianças. Alguns desses problemas de linguagem se originam da cegueira mental e da não compreensão da essência,podendo ainda, apresentar outras dificuldades, o que varia muito de pessoa para pessoa e pode aflorar de várias maneiras.Crianças com ASD podem desenvolver linguagem mais tarde e ter aptidões de linguagem expressivas (saber dizer o nome das coisas) e receptivas (entender o que se diz) limitadas.Criança com ASD tem probabilidades muito menores de responder aos seus provedores de cuidados.Elas parecem não ter parte do programa que as ajudam a reagir.Não murmuram nem balbuciam.Seus problemas com a Teoria da Mente (TDM) e com o entendimento da essência dificultam a comunicação social.Em geral,são alheias às necessidades do ouvinte e não captam as informações não verbais no rosto dos outros.
 Às vezes, seu comportamento parece insolente porque não entendem a essência de um comentário dentro de um determinado contexto social. Quando a linguagem se desenvolve,ela costuma ser repetitiva e desprovida de qualidade social.As conversas parecem ser mais sobre fatos do que sobre sentimentos e são bastante unilaterais.


Intervenções em ASD


Criar filhos com ASD é um trabalho árduo, que exige muitos esforços de pais, professores e outros profissionais. Há algumas intervenções que trazem grande valia para crianças com ASD e suas famílias. Por exemplo: o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, podem contribuir muito para melhorar a comunicação. Vários programas, como sonorize, também reconhecem os pontos fortes de cuidados criativos por parte dos pais e a importância de não deixar as crianças sozinhas com seus próprios dispositivos, mas sim, participar regularmente de suas atividades desde o início.
Son-Rise é uma abordagem para tratamento e educação projetada para ajudar crianças com autismo, suas famílias e provedores de cuidados. Baseia-se em alguns princípios fundamentais, entre os quais: participar ativamente de comportamentos incomuns e repetitivos da criança na tentativa de facilitar mais interação social;focar nas motivações e interesses da criança para facilitar a aprendizagem e a aquisição de aptidões; incentivar as brincadeiras interativas e usa-las para aprendizagem;manter uma atitude positiva, imparcial e amorosa em interações e expectativas; reconhecer que os pais ou provedores de cuidados são o recurso mais importante e duradouro da criança e criar uma área de trabalho/diversão segura e livre de distrações.
Muitas das intervenções planejadas para crianças com dificuldades do espectro do autismo concentram-se em aspectos como comunicação, interação social e comportamento. Os movimentos repetitivos costumam melhorar quando são essas as metas; por exemplo, incentivar a interação com os pais reduz os comportamentos repetitivos.Vale a pena eliminar movimentos repetitivos se: forem excessivos e atrapalharem outros aspectos da vida; atraírem pilhérias;ferirem uma criança ou outrem e interferirem excessivamente na vida familiar. Ex. de comportamento repetitivo: bate a cabeça repetidamente. O ato de bater a cabeça pode ser uma expressão de frustração,raiva,medo dor ou tédio (expressão emocional); para eliciar sensações apreciadas ou repetição reconfortante (interesses sensoriais) ou para obter uma resposta do ambiente (eliciar conseqüências). É sempre importante tentar entender por que a criança adota o comportamento de bater a cabeça antes de darmos início a qualquer intervenção. Nesse exemplo,a criança usa bater a cabeça quando quer continuar a fazer as coisas que gosta, como brincar com seus brinquedos. Tal comportamento a estava prejudicando,pois além de poder se ferir ,também impedia de aprender ou participar de outras coisas. Algumas alternativas foram usadas pelos pais e escola para auxiliar essa criança: -ensinando sobre escolha: deram-lhe duas opções de brinquedos e usaram um cronômetro para ajudar a criança a entender quando era a hora de um ou outro brinquedo. Se começava a bater a cabeça, os professores calmamente lhe diziam “Nada de bater a cabeça.”; -passaram a usar um capacete para evitar que ele se ferisse. Capacetes protetores funcionam de várias maneiras, dependendo da criança e do problema. Com ele,a criança reduziu drasticamente este comportamento de bater a cabeça. Às vezes, os comportamentos repetitivos são um sinal de alerta para sintomas físicos como dor ,fome ou cansaço. É importante bancar o detetive e tentar descobrir qual problema está causando o comportamento repetitivo.Às vezes,é possível alterar um comportamento,alterando a reação à ele,ignorando-o ou incentivando a criança a fazer outra alguma outra atividade ou mesmo,alterando o ambiente físico.
Crianças com ASD tem maior probabilidade de desenvolver compulsões, obsessões, rotinas e hábitos ou rituais do que as demais.Essas rotinas ou rituais compulsivos em ASD têm conteúdo ou intensidade incomum. Muitas começam como algo pequeno e vão crescendo, a medida que a criança vai alcançando novas etapas.Por exemplo, Peter, aos cinco anos, começou a insistir de fechar a porta da sala quando ele estava presente. Com o passar do tempo, isso se estendeu às outras portas das cãs. Ele chegava da escola e ia fechando todas as portas da casa. Aos sete anos, fazia birra se alguém insistisse em manter alguma porta ou janela aberta quando ele estava por perto. Esse problema foi solucionado com um sistema de recompensas que o ajudou a aceitar portas e janelas abertas.
No geral,as rotinas inofensivas que dão estrutura são boas porque fazem as crianças com ASD se sentirem seguras.Outras são inúteis, como por exemplo, o caso de Jacó. É importante observar que cada criança deve ser analisada individualmente, considerando QUAL é o problema, POR QUE ele acontece e COMO lidar com ele.No caso de Jacó, seu problema consiste numa série de rituais matinais, que executa antes de sair,onde seus familiares têm que ficar parados numa determinada parte da casa enquanto ele faz uma série de coisas que não tem relação com sua preparação para sair,por exemplo,começa pelos quartos enquanto sua família fica no andar de baixo.Verifica o piso,depois vai para o quarto dos pais e executa um complexo ritual envolvendo o espelho e o desodorante.Veste-se em determinada seqüência,depois desce as escadas fazendo trejeitos e uma acrobacia no patamar,arruma seus Teletubbies e ninguém pode perturbá-los.Isso leva mais de meia hora e só depois vai tomar o desjejum para sair.Se algo der errado,repete tudo novamente.Nesse caso,Jacó tem cegueira mental,não tendo noção das necessidades dos outros na casa de também se prepararem para sair cedo de casa.Ele não compreende a importância de sair de casa em tempo para chegar à escola.A rotina o faz sentir-se confortável.Talvez a ansiedade de ter que sair,o faça precisar do ritual para apoiar-se e ajuda-lo a enfrentar a situação.
Para lidar com seu problema,usou-se um horário visual com fotos da família e dele fazendo atividades enquanto se preparavam para sair e, depois,uma figura dele no carro com a mãe e a irmã.Quando for mais velho,opinião e debate sobre as necessidades de outros familiares o ajudarão.Uma história social também o ajudou a entender o contexto de alguns eventos matinais e, um cronômetro foi uma forma útil de informá-lo sobre quanto tempo ele tinha antes de sair de casa de carro. Seu gosto pela rotina foi satisfeito pela mãe que fez pequenos cartões escritos de forma nítida que cobriam cada atividade feita. Jacó gostava de colocar cada cartão no lugar à medida que as coisas progrediam. É sempre importante deter as tentativas infantis de acrescentar mais eventos ao ritual. Quanto mais longos os rituais, mais difíceis de cessar.
Outras intervenções que se pode experimentar são: criar bons hábitos desde cedo, como por exemplo,no caso de a criança ter pesadelos,criar hábitos de dormir desde cedo, estabelecendo uma rotina noturna que envolva desde o ambiente silencioso, escuro e aquecido, até uma rotina, como por exemplo, tomar banho; vestir o pijama; beber alguma coisa e comer uma bolacha; ir ao banheiro; lavar as mãos e escovar os dentes; deitar-se; uma história curta; beijos de boa noite no pai ou mãe; apagar a luz e o pai ou a mãe diz “boa-noite” e sai. Procure manter sempre o mesmo horário.
Muitas outras intervenções podem ser feitas,mas o importante é que se analise cada caso, descobrindo qual o problema que a criança apresenta e o porquê de tal problema.Toda intervenção deve partir desse princípio.


Referência Bibliográfica
Williams,Chris, e Wright, Barry (2008):Convivendo com Autismo e Síndrome de
Asperger: Estratégias práticas para pais e profissionais.São Paulo, M. Books do Brasil Ed. Ltda.


Alguns sinais de Autismo